segunda-feira, 18 de junho de 2012

Obras de poetas que tenham caracteristicas com as obras de Álvares de Azevedo

Desejo


Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só' por mim palpitasse
De amor em terna expansão;
Do peito calara as mágoas,
Bem feliz eu era então!

Se essa mulher fosse linda
Como os anjos lindos são,
Se tivesse quinze anos,
Se fosse rosa em botão,
Se inda brincasse inocente
Descuidosa no gazão;

Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;

Se as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;

Se a fronte pura e serena
Brilhasse d'inspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;

Se a voz fosse harmoniosa
Como d'harpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;

E se o peito lhe ondulasse
Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;

E se essa mulher formosa
Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria...
— A vida, o céu, a razão!  

->Casimiro de Abreu




AS LETRAS
                                     
Na tênue casca de verde arbusto
            Gravei teu nome, depois parti;
Foram-se os anos, foram-se os meses,
            Foram-se os dias, acho-me aqui.
Mas ai!  o arbusto se fez tão alto,
            Teu nome erguendo, que mais não vi!
E nessas letras que aos céus subiam,
            — Meus belos sonhos de amor perdi.

-> Fagundes Varella


Soneto
 
 
Arda de raiva contra mim a intriga, 
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável 
A vil calúnia, pérfida inimiga.
        Una-se todo, em traiçoeira liga,
        Contra mim só, o mundo miserável.
        Alimente por mim ódio entranhável
        O coração da terra que me abriga.
Sei rir-me da vaidade dos humanos; 
Sei desprezar um nome não preciso; 
Sei insultar uns cálculos insanos.
        Durmo feliz sobre o suave riso
        De uns lábios de mulher gentis, ufanos;

        E o mais que os homens são, desprezo e piso.



->Junqueira Freire

Carolina e Bruna







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